quinta-feira, 14 de maio de 2020

Uma conversa sobre assédio sexual

Quando ouvimos falar de assédio sexual, geralmente o caso já se tornou uma situação muito constrangedora, em outras palavras.... o que começou com um "simples olhar" hoje já é um ambiente tóxico e desagradável, onde muitas vezes só resta duas opções para a vitima: Ou aguenta a situação ou pede as contas. Obviamente essa é uma situação dentro do ambiente de trabalho, entretanto, o assédio sexual ocorre também dentro de casa. Falo por experiência própria... é uma situação sufocante ser uma criança e não ter para onde ir. 





O assédio sexual começa com um olhar impróprio, uma caricia fora do contexto e vai se agravando para um sentimento onde a vitima se sente como um objeto. Um objeto sem direito de voz, sem proteção...e no pior dos casos: "O que você fez? Você deve ter feito alguma coisa para atrair essa situação!". Então vem o sentimento de culpa..."O que eu fiz? Eu falei algo que não devia ter dito? Foi a minha roupa? Mais eu nem uso roupa curta! ". A quantidade de pensamentos que cerca uma pessoa que sofre assédio sexual é incrivelmente tóxica e prejudicial a sua saúde mental a longo prazo.


As vozes das sobreviventes do comércio sexual são essenciais para uma discussão sobre assédio sexual, estupro e supremacia masculina, porque suas experiências são tolerar o assédio sexual, estupro e abuso verbal em troca de dinheiro ou bens ou qualquer outra coisa de valor. Às vezes, a “coisa de valor” que é trocada por atos sexuais é comida, abrigo ou assistência médica. Mas quando a “coisa de valor” é o avanço da carreira – ainda é prostituição. A lógica supremacista do homem que tem mais poder do que uma mulher, seja ele seu chefe, médico, advogado, professor, presidente – é o mesmo que o comprador sexual: “Eu te pago, então eu possuo você para que eu possa fazer qualquer coisa que eu quero a você. ” O avanço da carreira em troca de atos sexuais é uma forma de prostituição, já que é a troca de algo de valor por atos sexuais. A prostituição como um elemento de progressão na carreira é geralmente chamada de exploração sexual, mas não de prostituição. (Texto retirado do site antiprostituição - pode ser acessado originalmente por esse link).

 Então é sobre isso que se trata? Se uma mulher trabalha para um homem...então ela é sua propriedade,certo? Se uma mulher está perto de mim e eu, como homem e dono da economia de sua casa e de seu sustento pessoal, tenho o direito de possuir aquilo que me agrada! Esse é o pensamento do mundo patriarcado, onde uma voz feminina é sempre a vitima e sempre a culpada...e o homem é sempre o caçador mais ágil que está protegido por seus "instintos".



Esse é o pensamento mecanizado que nossa sociedade construiu. Uma mulher é vista como algo pecaminoso, cheia de tentação, um recipiente de desejo, vontade e principalmente um ser nada confiável, cheio de emoções e de "exageros".
"A mulher sempre aumenta uma situação, não foi nada disso, olha...eu fui até ela sim, mas ela me deu abertura para isso. Ela me olhou de volta. Então eu fui".

O assédio sexual é o que a prostituição é. Se você remover o assédio sexual, não há prostituição. Se você remover atos sexuais indesejados, não haverá prostituição. Se você eliminar o estupro pago, não há prostituição. Evelina Giobbe, fundadora da WHISPER (Mulheres Feridas em Sistemas de Prostituição Engajados em Revolta), disse: “A prostituição estabelece os parâmetros para o que você pode fazer com uma mulher. É o modelo para a condição da mulher”. Onde quer que haja assédio sexual, um determinado grupo de mulheres é separado de outras mulheres. “A prostituição é separada de tudo o que as pessoas estão falando quando dizem #EuTambém”, disse Giobbe. As pessoas não ficariam chocadas se Harvey Weinstein, Bill Cosby ou Woody Allen fizessem o mesmo com mulheres prostituídas. Por que isso? “Uma casta especial de mulheres prostituídas é criada para garantir aos homens o acesso sexual incondicional às mulheres” (Giobbe, 1990). (Texto retirado do site antiprostituição - pode ser acessado originalmente por esse link).

A situação é tão extensa, que os homens tem um lugar especifico (e protegido ainda mais!) para praticar esses atos ilícitos. As casas noturnas são um prato cheio para esses homens. Mais não se enganem, o que um homem faz com uma mulher de programa ele também faz com sua empregada, sua mulher, sua filha, sua sobrinha, e com qualquer mulher que ele se ache digno de possuir. Casas noturnas são apenas capelas santificadas para o estupro, violência e o assédio sexual. Nenhuma mulher está protegida quando tem um homem por perto. 

As pessoas geralmente acreditam que "mulheres de programa" são culpadas por essas ações do homem. Afinal, estão lá para isso mesmo não é? Muitas mulheres ainda dizem: " Deixa os homens irem nessas casas...pelo menos lá eles não nos machucam". Quando minimizamos a situação nesse nível, indiretamente damos nossa permissão para os homens não se sentirem culpados ao machucar, estuprar e violar outra mulher. 

Homens nos mais altos gabinetes do governo – homens como Donald Trump e Clarence Thomas [n.t. ou Jair Bolsonaro] – negam o seu assédio sexual predatório e crônico como “conversa do vestiário”, como é apenas como meninos são, homem é tudo desse jeito. Seu comportamento não pode ser distinguido do comportamento dos compradores sexuais predatórios, exceto que os compradores sexuais pagam para assediar sexualmente e estuprar. “Weinstein e Trump não são diferentes dos compradores sexuais cotidianos”, disse Vednita Carter, fundadora da Breaking Free em Minneapolis. “Eles violam as mulheres porque podem, dizendo a si mesmos que ela queria ou que ela gostava.” (Texto retirado do site antiprostituição - pode ser acessado originalmente por esse link).

 O maior erro das mulheres é separar "elas" e "nós". Mais não percebem...quando uma mulher é assediada, todas as mulheres são. Quando a comunidade feminina do mundo inteiro perceber que não pode existir essa separação, talvez algumas coisas comecem a mudar. Entretanto, enquanto durar esse pensamento as coisas continuaram do jeito que estão. "A ilusão narcísica de que o assédio sexual e a prostituição são a “livre escolha” dela ou que “era consensual”, é a ideologia que mantém a prostituição – e a subordinação e silenciamento das mulheres – funcionando sem problemas". (Texto retirado do site antiprostituição - pode ser acessado originalmente por esse link).



Vocês conseguem perceber que a prostituição é o ambiente secundário da casa do homem? É o seu lugar preferido no mundo...pensem comigo, nas casas noturnas não tem lei, não tem polícia e se o homem quiser, ele nunca mais verá a mulher que estuprou. É o seu paraíso na terra. Agora imaginem as mulheres dessa casa. Pensem nessas mulheres que foram machucadas de inúmeras maneiras e que hoje vêm o estupro como algo tipico do seu dia-a-dia. Agora imaginem as mulheres que passam por esse  inferno. Você acha que está muito longe de sua realidade?

 Vamos mudar de ambiente. Só que agora é dentro de casa, pela lógica, sua casa é um lugar seguro certo? O que acontece com as donas de casas e suas filhas quando um homem desse volta para casa? A casa dessas mulheres é igual uma casa noturna... em seu lugar seguro acontece agressão, estupro e tortura. Mais ao contrário das mulheres de programa....você terá que vê esse mesmo homem todos os dias.

“Por que você ficaria surpreso que os homens que podem ajudar com seu avanço econômico exijam favores sexuais ou estuprem você? É o que os homens fazem com as mulheres pelas quais pagam.” (Texto retirado do site antiprostituição - pode ser acessado originalmente por esse link).

Então, nós mulheres, vamos parar de classificar "elas" e "nós". Quando uma mulher é assediada, acuada, ameaçada, acariciada sem sua permissão, estuprada, violentada e assediada em seu trabalho ou em sua casa...todas as mulheres do mundo são. 

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