terça-feira, 28 de abril de 2020


As mulheres nas estatísticas
O ano era 1991 e Naomi Wolf nos presenteava com seu livro mais polemico e inspirador: O Mito da beleza: Como as imagens da beleza são usados contra as mulheres
Nas próximas linhas, tem um pequeno trecho do livro, onde Naomi detalhe com  estatísticas o que as mulheres sofrem com a imagem padronizada que os homens tem sobre seus corpos.


Em 1986, o pesquisador da UCLA, Neil Malamuth, relatou que 30% dos estudantes afirmaram que cometeriam estupro se tivessem certeza de não serem responsabilizados. Quando a pesquisa alterou a pergunta, substituindo o termo "estupro" pela expressão "forçar uma mulher a fazer sexo", 58% responderam que sim. 
A revista Ms. encomendou uma pesquisa com recursos do Instituto Nacional pela Saúde Mental com 6.100 estudantes universitários, de ambos os sexos, em trinta e duas universidades em todo o país. No ano anterior à pesquisa de Ms., 2.971 jovens universitários cometeram 187 estupros, 157 tentativas de estupro, 327 atos de coação sexual e 854 tentativas de contato sexual indesejado. 
A pesquisa de Ms. concluiu que "cenas no cinema e na televisão que refletem a violência e a força em relações sexuais estão diretamente relacionadas ao estupro por parte de pessoas conhecidas". 
Numa outra pesquisa com 114 estudantes universitá- rios do sexo masculino, surgiram as seguintes respostas: "Gosto de dominar uma mulher." 91,3%. "O que me dá prazer é o aspecto de conquista do sexo." 86,1%. "Algumas mulheres parecem estar simplesmente pedindo para serem estupradas." 83,5%. "Fico excitado quando uma mulher se debate com o ato sexual." 63,5%. O SEXO 219 "Seria excitante usar a força para subjugar uma mulher." 61,7%.  
Na pesquisa da revista Ms., um entre doze estudante universitários, ou 8% dos participantes da pesquisa, havia estuprado ou tentado estuprar uma mulher desde a idade de quatorze anos (a única diferença consistente entre esse grupo e os que não haviam agredido mulheres consistia no fato de o primeiro grupo dizer que lia pornografia "com muita freqüência"). 
Pesquisadores nas universidades de Emory e Auburn nos Estados Unidos revelaram que 30% dos estudantes do sexo masculino consideravam os rostos de mulheres demonstrando perturba- ção emocional — dor, medo — mais atraentes do ponto de vista sexual do que os rostos com expressão de prazer. Dentre os participantes da pesquisa, 60% haviam cometido atos de agressão sexual. As mulheres vão mal. 
Na pesquisa da revista Ms., uma entre quatro mulheres participantes havia passado por uma experiência que se encaixava na definição legal americana para o estupro ou para a tentativa de estupro. Entre as 3.187 mulheres pesquisadas, no ano anterior, haviam ocorrido 328 estupros e 534 tentativas de estupro; 837 haviam sido submetidas à coação sexual e 2.024 passaram por episódios de contato sexual indesejado. O estupro durante encontros marcados demonstra, mais do que o estupro por um desconhecido, a confusão gerada em meio aos jovens envolvendo o sexo e a violência. 
Das mulheres estupradas, 84% conheciam o agressor, e 57% foram estupradas em encontros marcados. O estupro em encontros marcados é, portanto, mais comum do que o canhotismo, o alcoolismo e os ataques cardíacos. Em 1982, um estudo da Auburn University revelou que 25% das estudantes universitárias haviam passado por pelo menos uma experiência de estupro; 93 % das quais por parte de conhecidos. Dos homens de Auburn, 61% haviam forçado contato sexual com uma mulher contra a vontade dela. 
Uma pesquisa de 1982 da St. Cloud State Uni- 220 O MITO DA BELEZA versity revelou que 29% de suas alunas haviam sido estupradas. Vinte por cento das alunas da University of South Dakota haviam sido violentadas em encontros marcados; na Brown University, 16% haviam sido violentadas em encontros marcados. Onze por cento dos alunos do sexo masculino da Brown University afirmaram ter feito sexo à força com uma mulher. 
Naquele mesmo ano, 15% dos alunos disseram ter estuprado uma mulher num encontro marcado. É quatro vezes mais provável que uma mulher seja violentada por um conhecido do que por um estranho. A violência sexual é considerada normal pelas moças assim como pelos rapazes. "Um estudo após o outro revela que as mulheres que são violentadas por homens que conhecem nem mesmo identificam a experiência como estupro."
 Dentre as participantes da pesquisa da revista Ms., apenas 27% o fizeram. Será que essa incapacidade de chamar de "estupro" aquilo que lhes aconteceu significa que elas estão livres dos efeitos retardados do estupro? Trinta por cento das moças violentadas, quer chamem a experiência de estupro, quer não, pensaram em suicídio depois. Trinta e um por cento procuraram a psicoterapia, e 82% afirmaram que a experiência as havia mudado de forma permanente. Quarenta e um por cento das mulheres violentadas disseram que seriam estupradas novamente. 

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